Sumário de notas principais (SNP)

  • O calendário gregoriano, que usamos no Brasil, é usado na China para fins civis, mas lá há um calendário especial para festividades: o calendário lunar (ou simplesmente calendário chinês);
  • Neste calendário, o ano dura 354 dias. A cada três anos, é adicionado um 13º mês para corrigir a diferença com o ano solar, de 365;
  • O início do ano no calendário chinês é marcado pelo Festival da Primavera e sua data é variável: em 2020, cairá no dia 25 de janeiro;
  • Além da própria China, comunidades chinesas ao redor do globo também conduzem festividades tradicionais, inclusive no Brasil. Saiba onde comemorar.

O calendário chinês

Atualmente, quase todos os países do mundo utilizam o calendário gregoriano, ou uma versão ligeiramente modificada dele, como base para a marcação de tempo. Introduzido em 1582, sob orientação do Papa Gregório XIII, tal calendário consiste em uma versão ajustada do calendário juliano – ainda utilizado pela Igreja Ortodoxa, mas que, nos dias atuais, apresenta uma diferença acumulada de aproximadamente 13 dias em relação ao calendário mais difundido após a reforma conduzida pelo Papa Gregório.
No calendário gregoriano, o ano é dividido em 12 meses de 30 ou 31 dias, com exceção do mês de fevereiro, que possui 28 dias nos anos comuns, e 29 dias nos anos bissextos – que acontecem, de maneira geral, a cada 4 anos. No entanto, ao contrário do que ocorre no calendário juliano, os anos centenários (terminados em 00, como os anos 900, 1000, 1100 etc.) nunca são considerados bissextos, a não ser que sejam divisíveis de forma exata por 400 (ex.: 1200, 1600, 2000 e assim por diante).
A China atualmente também adota o calendário gregoriano como calendário civil, mas utiliza um segundo para determinar seus feriados e festivais (prática esta que não é exclusividade chinesa): é o que eles chamam de calendário agrícola, tradicional ou lunar. Fora da China, é comum simplesmente chamá-lo de calendário chinês
Este calendário baseia-se tanto nos movimentos aparentes do sol quanto os da lua, sendo, portanto, lunissolar. Assim, são estabelecidos 12 meses cujas durações equivalem ao tempo entre duas luas novas (de 29 a 30 dias), gerando um ano que contém 354 dias no total. Para diminuir a defasagem com o ano trópico (de aproximadamente 365 dias), é adicionado um 13º mês a cada três anos.
Cada ano desse calendário é atribuído a um dos doze animais do horóscopo chinês, formando um ciclo de 12 anos: o primeiro ano do ciclo é o do rato, seguido de boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro/cabra, macaco, galo, cão e, por fim, porco/javali. Em 2020 (do calendário gregoriano), acontecerá a transição para um ano do rato, sendo portanto o início de um novo ciclo. 

O Festival da Primavera

O Ano-Novo chinês, também chamado de Festival da Primavera, inicia-se com a primeira lua nova do calendário lunar e termina com a primeira lua cheia, durando um total de 15 dias. Por se basear nos ciclos da lua, as datas deste festival não são sempre as mesmas no nosso calendário, podendo começar entre o final de janeiro e o de fevereiro – em 2020, o início das celebrações será em 25 de janeiro.
A chegada do novo ano é repleta de tradições, superstições e tabus. Uma delas é, cerca de 10 dias antes das festividades, limpar as casas minuciosamente, de modo a remover qualquer má sorte que possa estar presente. Então, as vassouras e utensílios similares devem ser escondidos e não se deve limpar mais nada até alguns dias após a virada do ano, para que não se varra para longe a boa sorte que chega nessa época. 
Outros tabus comuns envolvem lavar os cabelos ou as roupas, comer mingau, utilizar tesouras, facas ou agulhas, chorar, tomar remédios, pegar dinheiro emprestado e matar animais, dentre muitos outros. Todas essas ações devem ser evitadas, de modo a garantir um ano próspero e saudável.
Na véspera da virada do ano, as famílias se reúnem para um grande jantar, e os pais entregam envelopes vermelhos com dinheiro para as crianças, para atrair boa sorte, saúde, crescimento e bom desempenho escolar. Similarmente, empregadores entregam envelopes vermelhos com quantias em dinheiro a seus funcionários, para facilitar que voltem a sua terra natal e possam aproveitar o feriado com a família. 
Embora a maioria dos chineses retorne ao trabalho na semana seguinte ao início do Festival, as celebrações continuam até o 15º dia, quando ocorre o Festival das Lanternas. Para celebrar a primeira lua cheia do ano, são realizadas a Dança do Dragão e a do Leão, consome-se comidas com simbolismo especial, e as casas e ruas são iluminadas por lanternas de papel de diferentes tamanhos e formatos.
Há várias lendas que explicam as origens do Festival da Primavera e de suas tradições associadas. Uma delas conta que um monstro chamado Nian – que temia a cor vermelha, o fogo e barulhos altos – se alimentava de humanos na véspera do ano novo. Para afastá-lo, as casas eram pintadas ou decoradas em vermelho, lanternas eram acesas durante a noite e ateava-se fogo em pedaços de bambu (que, ao ser queimado, emite estalos) ou, mais recentemente, em fogos de artifício.

E no Brasil?

Em 1812, chegou ao Brasil o primeiro grupo de chineses, para trabalhar no Rio de Janeiro em uma tentativa de introdução do plantio de chá. Entretanto, esse cultivo não se adaptou ao clima brasileiro e, por consequência, os fluxos imigratórios se mantiveram baixos. O quadro se alterou a partir de 1960, devido aos conflitos e tensões políticas existentes na China nesse período que influenciaram chineses e taiwaneses a se refugiarem em outros países. Segundo a Associação Chinesa do Brasil, em 2012 havia 250 mil descendentes de chineses em território brasileiro, dos quais a maior parte se encontrava em São Paulo.
Por ser um dos mais importantes eventos para o povo chinês, a celebração do Festival da Primavera é realizada nas comunidades chinesas do mundo tudo – e aqui no Brasil não poderia ser diferente.
A Companhia Artística e Cultural da Província de Henan, em parceria com a Embaixada da China no Brasil, traz uma turnê cujas principais atrações são as demonstrações de artes marciais dos monges guerreiros do Templo Shaolin e a apresentação da Companhia de Música e Dança de Zhengzhou. No dia 22 de janeiro, o espetáculo é em Recife, no Teatro Luiz Mendonça. Depois, o grupo segue para Foz do Iguaçu, apresentando-se no Parque Nacional de Iguaçu no dia 24 e na Praça da Paz no dia 25. Por fim, quem os recebe é Curitiba, em 26 de janeiro no Memorial de Curitiba. Todas as apresentações terão início às 20h.
Em São Paulo, no bairro da Liberdade, o Templo Lohan possui uma programação completa para o dia 25 de janeiro, com cerimônia de queima de incensos, prática aberta de meditação, espetáculos de Danças do Dragão e do Leão, palestras, show pirotécnico e muito mais. O evento começa às 10 da manhã e vai até 10 da noite, com entrada no valor de 20 reais.
Em Cotia, no dia 02 de fevereiro, o Templo Zu Lai oferece almoço vegetariano e barracas com comidas típicas, apresentações das Danças do Dragão e do Leão, Cerimônia dos Mil Budas e workshops de recorte de papel, origami e caligrafia chinesa, dentre outros. As atividades têm início entre 10h e 13h, e a entrada é gratuita.

Referências

CHENG, Linsun (Ed.). Berkshire encyclopedia of China: Modern and historic views of the world’s newest and oldest global power. Great Barrington: Berkshire Publishing Group, 2009.
KUIPER, Kathleen. Understanding China: The Culture of China. New York: Britannica Educational Publishing, 2011.
PONG, David (Ed.). Encyclopedia of modern China. Farmington Hills: Charles Scribner’s Sons, 2009.
SILVA, Carlos Freire da. Conexões Brasil-China: a migração chinesa no centro de São Paulo. Cadernos Metrópole, São Paulo, v. 20, n. 41, p.223-243, abr. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2018-4111.
SÔMA, Mitsuru; KAWABATA, Kin-aki; TANIKAWA, Kiyotaka. Units of Time in Ancient China and Japan. Publications Of The Astronomical Society Of Japan, [s.l.], v. 56, n. 5, p.887-904, 25 out. 2004. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1093/pasj/56.5.887.