O carnaval do Brasil é, indiscutivelmente, o maior do mundo. São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Recife figuram entre as capitais que mais recebem pessoas para os festejos, cada uma com suas particularidades. 
Há, porém, alguns elementos comuns a todos os carnavais do Brasil cujas origens remontam a diferentes partes do mundo. 
Se o carnaval fosse uma pessoa, como seria sua ancestralidade?
A Genera responde!
 

Imagem mostra um infográfico sinalizando os locais de onde vieram traços que compõem o carnaval brasileiro. Estão indicados os países: Itália (contribuiu com o nome do carnaval, derivado de Carrum Navale e Carnem Levare, com o baile de máscaras e fantasias, commedia dell'Arte), Grécia (contribuiu com as festas Dionísicas, vinho, máscaras e teatro grego), Levante (contribuiu com Saceias, festivais em honra ao deus Marsuk envolvendo troca de papéis entre reis e escravos), Egito (cortejos de carnaval em honra à deusa Ísis que deram origem aos carros alegóricos) e África Ocidental (que contribuiu com tambores e ritmos basais do carnaval brasileiro).

O fim do inverno marca o começo de um novo ciclo

O mês de fevereiro marca, no hemisfério norte, o fim do inverno. Por isso, rituais de festividade no período são encontrados em diversas culturas de regiões ao norte da linha do equador. Em especial, as festas dionisíacas gregas e a lupercália romana eram festas com características que se propagaram pelos tempos até a atualidade, como o ato de se fantasiar, a inversão de papéis (senhores se colocando nos papeis de escravos, homens vestidos de mulher e vice-versa) e desregrada entrega ao vinho e à sexualidade. 

Levante

Na Babilônia, existiam as Saceias, festividades que duravam onze dias onde um escravo era posto no lugar do rei, enquanto o rei era submetido a humilhações e torturas perante o deus Marduk. Este festival marcava o início do ano babilônico e trazia consigo alguns elementos comuns às festividades carnavalescas da antiguidade: a inversão de valores, ou seja, troca temporária de papéis durante a festividade (o rei sendo tratado como escravo e vice-versa) e a entrega aos prazeres físicos, dado que era permitido ao escravo deitar-se com as esposas do rei e provar de sua comida e bebida.
Porém, nem tudo eram flores: ao fim do festival, o prisioneiro era torturado e depois enforcado / empalado.

Egito 

Nas festividades romanas, especialmente na saturnália, havia a figura do carrum navale: uma carroça com formato de navio que abria o caminho do cortejo. Esta tradição, por sua vez, remonta ao festival egípcio Navigium Isidis, ou “a barca de Isis”, celebrado no Egito Antigo em honra à deusa Isis. No caso egípcio, tratava-se de um barco de verdade, que liderava o cortejo pelo rio Nilo, orando à deusa por proteção aos navegantes e ao povo como um todo. 
Acredita-se que o carrum navale romano – e por consequência o Navigium Isidis – seja a origem ancestral do nosso carro alegórico. Além disso, há quem diga que a palavra “carnaval” se origina do termo em latim (carrum navale = carnaval)

Grécia

Das tradições gregas, as Festas Dionísicas eram as festividades que mais se assemelhavam ao carnaval moderno. Celebrado em honra ao deus Dionísio – uma divindade associada ao vinho e ao êxtase – tais festas aconteciam em datas determinadas pelo calendário grego, sendo regadas a vinho, euforia e despudor sexual. Das festas dionísicas nasce o Teatro Grego, marcado pelo uso de máscaras e do surgimento dos gêneros Comédia e Tragédia. Além disso, muitas destas tradições foram incorporadas à cultura romana, que posteriormente irradiou estas influências para o resto do mundo ocidental.

Itália

Além do já mencionado carrum navale, há diversos outros elementos carnavalescos que remontam à Península Itálica. Por exemplo: a maioria dos historiadores entende que a palavra “carnaval” tem sua origem em carnem levare, ou seja, “livrar da carne”. Isso teria vindo após a “catolização” do festival e com a introdução da Quaresma: período penitencial entre o carnaval e a Páscoa onde não se consome carne, entre outros alimentos (vale lembrar que a Igreja Católica tem sua sede em Roma).
Outra cidade que contribuiu muito para o carnaval moderno foi Veneza. Tradicionais desde a Idade Média, os cortejos venezianos originaram e popularizaram as tradicionais máscaras brancas e inexpressivas, um dos mais reconhecíveis símbolos do carnaval contemporâneo, além das fantasias trocadas – reforçando o conceito da troca de papeis – e, espcialmente, da sátira aos poderosos (comumente se usava fantasias de militares, duques, padres e outras figuras de prestígio). 
Outro elemento que remonta à Itália são os tradicionais personagens Colombina, Pierrô e Arlequim, que se originam da Commedia dell’Arte, um gênero de teatro popular que se popularizou na Itália renascentista, uma espécie de primogênito da cultura de massas.

África Ocidental

Presente no carnaval brasileiro de norte a sul, a batucada é um elemento indissociável da cultura brasileira, introduzida pelos negros escravizados que foram trazidos pra cá ao longo dos séculos XVI ao XIX. Da linguagem percussiva africana se originaram ritmos que há séculos marcam a pulsação dos carnavais brasileiros, como o samba, o frevo, o maracatu e o ijexá. 
 

Referências

Judeus Suas Extraordinárias Histórias e Contribuições para o Progresso da Humanidade – Marcelo Szpilman